sábado, 27 de dezembro de 2014

Preço do petróleo novamente abaixo de 60 dólares

In “Expresso”:

   O preço do barril da variedade Brent negociada em Londres fechou a semana em 59,67 dólares. É a segunda vez, em termos de valores de fecho da sessão, que o preço regista valores abaixo de 60 dólares desde o segundo trimestre de 2009. O preço mais baixo de fecho registou-se a 18 de dezembro, quando o preço do barril de Brent desceu para 59,27 dólares.

Deste modo, mantem-se a tendência de descida dos preços do petróleo, apesar de uma subida para 61,69 dólares a 23 de dezembro. Desde a reunião da OPEP a 17 de novembro, quando o cartel exportador decidiu não diminuir o seu teto de produção até junho de 2015, que o preço do Brent já desceu 18%. Desde o pico do preço em junho, a quebra é de 48%.

A descida dos preços do barril de crude é atribuída em 60% ao excesso de oferta e em  20 a 35% ao recuo na procura devido ao abrandamento económico mundial, segundo os cálculos de Olivier Blanchard, o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, num estudo em coautoria com Rabah Arezki publicado recentemente, intitulado "Seven Questions about the Recent Oil Price Slump".

Este nível de preços baixos, num horizonte retrospetivo até ao segundo trimestre de 2009, parece estar para ficar por uns tempos, atendendo à posição inflexível dos países do Golfo, que dominam o cartel da OPEP. A postura do cartel foi repetida, na semana passada, na 10ª Conferência Árabe sobre Energia que se realizou durante três dias no Abu Dhabi. Os ministros do Golfo apontaram o dedo aos produtores "irresponsáveis" fora do cartel e reafirmaram que não tomarão uma decisão unilateral de descida do seu teto de produção até à reunião de 5 de junho de 2015.

Segundo um relatório do Departamento de Energia, os stocks de petróleo dos Estados Unidos aumentaram 7,3 milhões de barris na semana que fechou a 19 de dezembro, parecendo ilustrar a acusação dos árabes do cartel.

Impactos negativos nos exportadores e produtores de crude
Segundo o estudo de Blanchard, o limiar dos 60 dólares no preço da variedade norte-americana WTI (West Texas Intermediate) é ponto de equilíbrio (ou seja, o preço a partir do qual vale a pena extrair) para o conjunto da produção de petróleo a partir do xisto betuminoso nos Estados Unidos (o que se tem chamado de revolução do shale) e para a produção de outras variedades de petróleo não convencional, como o extraído nas areias betuminosas. Alguns campos petrolíferos a partir de xisto nos EUA, como Bakken, Eagle Ford and Permian, aguentam preços inferiores. O preço do barril WTI registou 55,21 dólares no valor de fecho de sexta-feira. É um preço inferior ao do barril de Brent.

A descida do preço do crude tem tido particular relevância em algumas divisas de países exportadores de petróleo, citando-se os casos da Venezuela, Rússia, Noruega e Nigéria. Em relação ao final de 2013, o bolívar venezuelano desvalorizou 172% no mercado paralelo, o rublo russo cerca de 50%, o naira nigeriano 15% e a coroa norueguesa 8,5%. Integram o "clube" das cinco maiores desvalorizações em 2014, juntamente com o peso argentino (mais de 18%).

O estudo de Blanchard refere, por exemplo, que os rendimentos do petróleo representam 50% do orçamento federal russo e 75% do orçamento angolano. O preço do barril para o equilíbrio orçamental em 2015 é de menos de 60 dólares no Kuwait e no Qatar, de 60 dólares para a Venezuela e Nigéria, de 80 dólares para Angola e de mais de 100 para a Rússia.

Sem comentários:

 
View My Stats